RECORDAÇÃO DA INFÂNCIA
Quem nunca teve recordação da infância que levante as mãos! Pois é, eu também sempre tenho esse tipo de recordação. Não sei explicar cientificamente para os, racionalistas; mas ela surge como se eu fosse teletransportado ao passado, tão rapidamente quanto a volta para o presente.
Uma que sempre me vem à mente, tem haver com o meu vício pela leitura e loucura pelos livros. Desde criança, ou talvez, adolescente, sempre fui um bibliomaníaco. Também não sei explicar, mas os livros sempre me atraíram, ainda que, não os lesse eu queria tê-los, guarda-los; emprestar?! Nem morto! O leitor deve estar ansioso, para que eu conte logo, que raio de recordação é essa. Pois bem. Talvez aos meus nove ou dez anos de idade, era viciado em leitura de gibis ( revista em quadrinhos ). Porém, por, nessa época, morar no interior e ser muito pobre, e ainda por cima, órfão; só poderia lê-los quando uma outra criança ou amiguinho emprestavam-me. A cidade por ser muito pequena, só tinha uma livraria, a da Dona Edna. Todos os dias na volta para casa, ao sair do colégio, ou melhor, grupo escolar Basílio de Carvalho, eu passava por lá e olhava todas as revistas. A Dona Edna, meio que proposital, deixava eu ler um pouco, mas logo em seguida ela vinha por trás de mim e puxava a revista das minhas mãos. Certo dia, ao passar por lá, deparei-me com uma novidade. Era um almanaque, e diga-se de passagem, o do tio patinhas e com histórias inéditas. Nossa! Como era lindo! Nossa como era hipnotizador! Só que ao pega-lo, para minha surpresa e frustração, ele estava encapado. Fiquei louco. Olhei-o pela frente, olhei-o por trás, olhei para Dona Edna e lá estava ela, como sempre, sentada em sua cadeira, por trás de uma mesa. Não sei se foi loucura minha, entretanto, achei que havia um tom de sarcasmo, no seu semblante. Botei a revista no lugar e fui-me embora. Ao chegar em casa a vontade de ler era maior. Não conseguia esquecê-lo. Não conseguia apagar de minha mente a imagem daquele belo e fascinante almanaque. Voltei à livraria e na primeira oportunidade peguei o almanaque e sai em desabalada carreira. Dona Edna chamou-me pelo nome, gritou, espraguejou-me, enfim. Ela conhecia-me. Tratei de esconder-me para ler, porque eu sabia que iria , primeiramente, levar uma surra e depois devolvê-lo. Minhas conclusões estavam certas. Esse pequeno furto que cometi, não foi simplesmente pelo vício de roubar, pois graças a Deus, nunca tive e nem tenho tal vício. Quem é que pode entender as crianças? Não estou tentando justificar o meu erro, porque, hoje, eu sei que isso não se faz. No entanto, não tenho nem um remorso. Claro que se essa história se repetisse, com um dos meus três filhos, , ficaria uma fera. Afinal agora sou adulto e adulto não tolera os mesmos erros, que outrora cometera. A leitura sempre me acompanhou. Comecei com gibis: Tio Patinhas, Turma da Mônica, Tex, ah! esse foi o meu preferido. Depois passei a ler filosofia oriental; segui para a leitura religiosa; em seguida para as poesias; literatura, os clássicos; crônicas; contos; etc. Hoje, mais maduro, continuo sendo um bibliófilo. Entretanto, a minha leitura está mais seletiva. Procuro usar todo o tempo disponível para ler. Na minha vida de cidade grande, quando usava o transporte coletivo para deslocar-me de casa para o trabalho e faculdade, de segunda a sexta-feira, fazia quatro viagens, cada qual com pouco mais ou menos, uma hora de duração. Se multiplicarmos teremos vinte horas semanais e oitenta horas mensais. Isso corresponde a três dias e oito horas. Eis aí o meu segredo: sempre carrego comigo um livro às mãos, para lê-lo nos ônibus, nas filas de banco etc. Não sei se conseguiria relaciona-los na íntegra, mas citarei alguns: Dom Quixote, O Cortiço, Dom Casmurro, Crime e Castigo, As Palavras e as Coisa, Inocência, Ana Karenina, Almas mortas, O Príncipe, etc., etc., etc. e não poderia deixar de falar da Bíblia. A leitura desse livro é imprescindível em minha vida. Se o leitor acha que não tem tempo, eu lhe afirmo que: tempo é questão de prioridade. Não quero que o leitor tome como exemplo, o meu pequeno furto, mas sim, o meu vício pela leitura. Pois só assim é que se ganha asas, liberdade e compreensão da vida.
Manoel Barreto
Enviado por Manoel Barreto em 19/10/2012
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