Manoel Barreto

Escrever é meu divã. Escrever é meu teatro. Não me procure em minhas palavras, pois não me econtrará

Textos

POBREZA

Hoje a pobreza mostrou-me a cara
Olhou-me nos olhos e proferiu-me palavras.
Ela é negra.
Por mais jovem que seja possui rugas.
Suas mãos são calejadas.
Por mais brancos que sejam os dentes
Seu sorriso é amarelado, cariado.
Seus cabelos grossos, sujos, desgrenhados.
Ela não tem altivez.
Ela não tem vez.
A pobreza, uma praga, é.
Ela é homem; ela é mulher.
Ela é magra.
Ela é pálida.
Ela é fome.
Ela é dor.
Não adianta ela gritar,
Pois não virá nem um bem-feitor.
Sua alma é corcunda, engelhada,
Ela é mal remunerada.
“Bem aventurado os pobre de espírito”
Mas ela não tem carne
Muito menos espírito.
Ela é só osso.
Ela é o osso.
Osso de alguém que deveria ser gente
Que nem a gente.
Manoel Barreto
Enviado por Manoel Barreto em 26/10/2012


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