Manoel Barreto

Escrever é meu divã. Escrever é meu teatro. Não me procure em minhas palavras, pois não me econtrará

Textos

CRESCER NA VIDA: BATE PAPO ENTRE PAI E FILHO
     Quinta-feira, 18/07/2013, à tarde, ao chegar do trabalho, depois de ter almoçado, fui para o meu quarto, deitar-me um pouco para descansar. Alí, em seguinda, um dos meus filhos entrou e deitou-se ao chão do quarto, bem próximo a minha cama. Pegou um dos travesseiros e colocou-o sob a sua cabeça, cruzou os braços e enfiou-os entre o travesseiro e a cabeça; colocou também uma de suas pernas, parte que compreende desde a “batata” até o pé, em cima de minha  cama. Eu, por minha vez, posicionei-me bem na extremidade, próxima a ele, e virei-me para olhar em seus olhos e bater um bom papo. Como sempre, um bom papo informal percorre vários e inusitados caminhos, desde pilhérias, ou seja, piadas, até assuntos mais sérios. As mudanças abruptas de assunto também são características peculiares da informalidade da linguagem familiar.
     Entre tantos assuntos discorridos, houve um que nos ativemos por um período de tempo maior, a saber, um futuro brilhante. É lógico que o conceito de futuro brilhante varia de pessoa para pessoa. Mas, em se tratando de nós dois, esse conceito não tem grande diferença. Digo isso pois acreditamos que as ascensão social, em quase todos os casos, só é possível por meio da dedicação ao estudo acadêmico, embora, logicamente, isso não seja fator primordial para tonar uma pessoa digna, ética, humana e cortês.
     Meu filho está, como diz o ditado popular, “na flor idade”. Tem 22 anos. Exatamente o dobro da minha. Diferença considerável em se levando enconta a perspectiva de vida do ser humano. Uma frase dele que me chamou atenção, foi esta: “tenho estudado muito e parece que não saio do lugar, não é só no estudo é em tudo, parece que nunca vou conseguir nada”. Respondi-lhe de súbito: “esse sentimento é totalmente natural. Quando caminhamos para o futuro é como se estivéssemos caminhando em uma esteira na academia. Caminhamos, caminhamos, caminhamos e continuamos, no entanto, no mesmo lugar. Mas é só a senção que é a mesma. O resultado é bem diferente. É preciso, muitas vezes, nós pararmos e olharmos para trás, a fim de que encherguemos a a longa estrada que ficou. O ponto de partida.”
     Falei isso, pois queria que ele visse o seu percurso já percorrido até hoje. Não precisava volver o olhar para muito longe. Bastava ele olhar a quatro anos atrás, somente isso. Aos 18 anos, conseguiu ser aprovado no curso de Direito e também em um concurso público para Guarda Municipal. Hoje já está quase concluindo a sua faculdade. Pensando assim, chegamos à conclusão de que ele não andou em um esteira.
     O deslocamento da vida, aquele que nos leva a alcançar os nosso sonhos, é quase imperceptivel, é muito subtil, daí a sensação de que não estamos avançando. Talvez seja por isso que muitos desistem dos seus sonhos, haja vista o homem pós-moderno ser muito imediatista. Esse homem não tem mais paciência para esperar um pouquinho que seja, quanto mais alguns anos.
“Crescer na vida”. “Ser alguém na vida”. Essas são algumas expressões que ouvi bastante na minha adolescência. Confesso que naquele momento eu não conseguia entendê-las. Mas com o passar do tempo, os seus significados foram ficando cada vez mais claro. E esse clareza foi, para mim, dolorida, pois como eu não quis aprender pelo amor, tive que aprender pela dor. Isso mesmo! Quando a cabeça não pensa é o corpo que padece.
     Em nosso bate papo, conversamos muito tempo sobre leitura, o porquê de se ler, como se ler, o que se ler e ai por diante. Acredito na transformação do homem. Acredito que o homem não fora criado para ser/agir como animal. Acredito que o homem é tranformado pela contemplação, pelo contato, pela assimilação. Logo, tudo que vê, escuta, sente, vive é o catalizador do que esse homem será.
     “A arte de ler gera em nós uma segunda natureza”. Significa dizer que nós (o EU) somos transformados (para melhor ou para pior) a cada contato com o OUTRO. Então, não seria diferente com a leitura, haja vista que “a arte de ler”, e não uma leitura qualquer, uma mera decodificação dos signos de um determinado alfabeto, é um contato com o autor do texto, é uma troca de experiência, é um diálogo, é um colóquio. Se assim é, por conseguinte, ao término da leitura de cada frase, de cada oração, de cada período, de cada parágrafo, de cada página, de cada capítulo, de cada livro, o nosso espírito (o EU) absorve particularidades e experiências do espirito do autor (o OUTRO). E é exatamente por tudo isso que tenho a seguinte opinião: saber ler é como saber escolher as nossas amizades; todo cuidado ainda é pouco, pois da mesma maneira que nos iludimos com certas pessoas (quem vê cara, não vê coração) também nos iludimos com a bela capa de um livro ou com o real interesse de quem faz o seu marketing.  Daí, depois de fazer a seleção da leitura, quando leio, cresço ética, moral, espiritual e intelectualmente. Eis o real significado das expressões “crescer na vida”, “ser alguém na vida”, meu filho!
Manoel Barreto
Enviado por Manoel Barreto em 26/07/2013
Alterado em 21/11/2013
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