AMOR À PRIMEIRA VISTA
As correntes eólicas da vida muita vez nos leva a caminhos não pensados ou programados. Falo isso porque a sede era senhora dos meus desejos. Em minha boca, a saliva tornava-se espessa, grudenta, era quase um cimento.
Decidi descer do quinto andar, onde me encontrava, a fim de ir em busca do néctar Divino, a água. Revolvi o bolso de minha calça em busca de um trocado que pudesse trocar por uma garrafinha de água bem gelada. A-gres-si-va-men-te ge-la-da.!! No percurso, havia uma banca de revista no meio do caminho. O nosso encontro era quase que inevitável. Passar próximo a ela é extremamente excitante (não só a essa banca mas a qualquer outra ou qualquer livraria). Rola um clima. Os meus olhos agitam-se ao ver os livros e as revistas. Quase sempre é apenas uma paquera, outras vezes até rola um “fica”, quando pego um livro, afagando-o, acariciando-o com minhas mãos suavemente, às vezes, quando posso, passo a despi-lo e vejo o seu íntimo e depois devolvo-o ao seu lugar. Mas quando o amor é incontrolável levo-o para morar comigo e vivemos felizes para sempre. E assim aconteceu. Lá estava ele: todo sensual, todo belo, todo provocante, todo convidativo. Fui cativado ao primeiro olhar. Não tive dúvida: era amor! Desse que arde sem se ver. Era um livro de poesia. Ao entregar-me por completo logo fomos morar juntos - enlace matrimonial. As palavras que me sussurrou foram suficientes para saciar a minha insana sede. As trocas de olhares trouxeram aconchego e deleite aos meus olhos. Nos abraçamos e saímos a procura de um lugar sossegado, tranquilo; um lugar onde pudéssemos trocar palavras de amor. Poesia, por mais que não se queira, sempre carrega consigo palavras de amor. Subi novamente para o quinto andar, entrei na sala onde haveria aula, uns trinta minutos antes do horário previsto. Ali estava eu e mais três pessoas. Era para ser um lugar tranquilo. Uma lugar convidativo à reflexão, ao pensamento acadêmico. Mas infelizmente, aquelas três pessoas conseguiam encher a sala com as ondas sonoras que saíam de suas bocas cheias de dentes. Não havia sentido o que elas falavam, ou melhor, gritavam. Mera verborragia. Logorreia. O sossego que buscávamos não fora possível. Deliciar-se com a leitura requer silêncio. Requer paz. Para se deliciar com a leitura é preciso encontrar a nossa ilha. Aquele lugar onde não é permitido a entrada de ninguém que não seja o leitor e a leitura. Seguimos juntos para a nossa casa, fazendo juras de amor.
Manoel Barreto
Enviado por Manoel Barreto em 01/11/2013
Alterado em 21/11/2013 Copyright © 2013. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |