Manoel Barreto

Escrever é meu divã. Escrever é meu teatro. Não me procure em minhas palavras, pois não me econtrará

Textos

APROVEITAR O TEMPO?
Tenho pensado ultimamente em como aproveitar o tempo. Estou chegando à conclusão que não tenho mais tanto tempo assim. Acho até mesmo que é o tempo que tem se aproveitado de mim.
Como diz o poema: “Acho que a vida anda passando a mão em mim/.../e por falar em sexo/ quem anda me comendo é o tempo”.
Há pessoas que juram de pés juntos que sabem ensinar a outras aproveitarem o tempo. Até vendem as suas palestras miraculosas. E os que acreditam nas promessas feitas gastam tempo ( acho melhor dizer, gastam-se no tempo porque o tempo não se gasta) sentadas em belas poltronas, ouvindo um serviçal de o tempo falar.
Já dizia Fernando Pessoa, ou melhor, Álvaro de Campos, “Aproveitar o tempo!.../ Ah, deixem-me não aproveitar nada! Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!.../ Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisas,/ A poeira de uma estrada, involuntária e sozinha,/ O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,”.
O sábio Salomão também pensou em aproveitar o tempo, mas no final da vida percebeu que fora aproveitado pelo tempo, por isso disse: “tudo é vaidade!”.
O tempo é egoísta! O tempo é possessivo! Observe o nome dele e veja! É composto pelo verbo “Ter”, na terceira pessoa do singular (ele), no presente do indicativo (tem). O tempo tem-nos em suas mãos.
Por mais que pensemos que fomos vitoriosos, pois conseguimos isso ou aquilo, no final percebemos que fomos “comidos pelo tempo”.
“Aproveitar o tempo?/ Mas o que é o tempo, que eu o aproveite?”. Essas são indagações de Álvaro de Campos.
Até hoje, depois de ter sido bastante aproveitado pelo tempo, não sei dizer que diabos é o tempo, nem a matéria de que ele é feito. Não sei dizer se tem cor, cheiro, sabor ou textura. Mas posso dizer o quão pesado ele é.
Sei também que tem unhas afiadas, que de tantas e tantas vezes passadas sobre mim, deixaram marcas visíveis e invisíveis. Aliás, muito mais invisíveis. Essas marcas invisíveis só eu e o tempo podemos ver.
                                                                                    
Manoel Barreto
Enviado por Manoel Barreto em 05/11/2013
Alterado em 21/11/2013
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