Manoel Barreto

Escrever é meu divã. Escrever é meu teatro. Não me procure em minhas palavras, pois não me econtrará

Textos

PAPAGAIO VELHO APRENDE A FALAR?

Sim!!! É claro que papagaio velho aprende a falar.
Você já ouviu esse ditado popular? Já o falou para alguém? Alguém já o disse para você? Sinceramente, têm alguns ditados populares, ditos e reiterados, muitas vezes, por nós sem se notar o seu teor discursivo, sem se fazer o exame visceral dos tais ditos populares. Muitos deles podem ser mortíferos para alguns seres humanos mais dotados de sensibilidade.
Você deve está se perguntado, como assim mortífero? Não entendi? Explicar-me-ei. Pare um pouco para refletir em qual contexto conversacional usamos o ditado popular em comento? Refletiu?!! Pois é, é isso mesmo! Nós o usamos para dizer a alguém que esse alguém é incapaz de evoluir, de progredir, de prosperar, principalmente, em se tratando da cognição, ou seja, do intelectual. Na realidade, dizer a uma pessoa o ditado “papagaio velho não aprende a falar” é usar um eufemismo, um chamado discurso politicamente correto, pois não temos a coragem de chamar a pessoa de burra, obtusa, oligofrênica...
Só quem me conhece há mais tempo sabe que voltei a estudar com uma idade bastante avançada (tá vendo?! Aqui estou eu lançado mãos do tal eufemismo), devo dizer depois de velho, para ser mais claro.
Lembro-me, como se fosse hoje, o momento em que decidi voltar à sala de aula, confesso que foi difícil, doeu bastante. Matriculei-me em um cursinho preparatório, a fim de preparar-me para as provas do DESU (Departamento de Ensino Supletivo). Depois de alguns dias resolvi contar a um amigo o que eu tinha feito. Falei com muita alegria e singeleza de coroação o seguinte: “você nem sabe o que fiz! Me matriculei para voltar a estudar!!. Ele olhou-me e disse fria, debochada e desacreditadamente “deixa disso! Papagaio velho não aprende a falar!!”. Esse meu amigo, já na época, era uma papagaio um pouco, mas não tanto, mais velho do que este papagaio que lhes escreve.
Juro que depois daquelas palavras quase as acreditei. Fui para casa com aquelas palavras ecoando em minha cabeça, era como se todas as pessoas que me olhavam, cochichavam umas com as outras “olha lá, vê se pode aquele papagaio velho querer aprender a falar” ou então “não estudou quando jovem, agora é tarde”. Não obstante, não deixei com que aquele ditado obstaculizasse-me, resolvi acreditar em meu potencial, mas o problema era que eu não sabia onde encontrá-lo. Muitas vezes o nosso potencial é suplantado ou pelas palavras de alguém ou pelas amizades que temos ou até por nós mesmos.
O esforço foi grande para eu provar para mim mesmo que eu, já sendo um papagaio velho, tinha força e potência para desenvolver-me, para expandir-me, para “aprender a falar”. Acreditar nos estudos é ter fé; e o conceito de fé é este: “é o firme fundamento das coisas que se esperam, e aprova das coisas que não se veem”. Acreditar nos estudos é fazer um investimento alongo prazo, mas com resultado satisfatório certo. Não quero aqui falar de quantas graduações tenho, pois não quero parecer prepotente. O que quero é dizer a você, caro amigo, se porventura alguém já lhe disse tais palavras sejam elas “ipsis litteres” ou não, não as acredite! Dê uma chacoalhada na cabeça e ponha-as para fora pelo mesmo lugar que elas entraram.
Se for preciso, para “aprender a falar”, comece igual a uma criança, com os monossílabos, depois passe para os dissílabos, para os trissílabos até chegar aos polissílabos. O importante é não parar nunca; descansar, sim; desistir, nunca! Pois com o passar do tempo e com muita perseverança você irá perceber que já é capaz de falar com muita desenvoltura palavras mais complexas como: oftalmotorrinolaringologista (entendeu? Rsssrs). Você deve está se perguntando se eu já aprendi a falar, minha resposta é: “ainda estou aprendendo”, isto significa dizer que não pretendo deixar de continuar aprendendo.
Sabe de uma coisa: eu creio na existência de um único Deus, um Deus que cuida de nós e que nos dá capacitação para realizar o que queremos. Falo isso porque acredito que para sermos verdadeiros vitoriosos é preciso unir a capacitação que Ele já nos deixou imanente, com a fé de que, além disso, eu preciso manter um mínimo de relacionamento com esse Deus de amor. Aí está a fórmula para a verdadeira vitória: desenvolvimento da capacitação imanente + relacionamento com Deus.
Foi exatamente isso que fiz. Corri atrás do meu sonho, embora muitas vozes gritassem que eu não conseguiria. Foram anos de labuta, dedicação, abnegação e muita confiança na voz interior que a cada dia se desenvolvia dentro em mim. Melhor seria dizer que a cada dia se desenvolve dentro em mim, pois até hoje tenho sede por “aprender a falar” mais e melhor.
Estudar é muito mais que ter um diploma, um belo contracheque, uma bela profissão ou posição social. Não posso negar, no entanto, que o estudo nos possibilita a chance de ascensão social, mas, muito mais do que isso, ele nos liberta, ele nos ilumina, ele nos faz ver o mundo de outra forma; ele nos faz até mesmo a amar melhor.
Há uma frase de um velho barbudo grego, Heráclito, filósofo pré-socrático, que é de uma profunda sabedoria. A frase é esta: “A guerra é a mãe e rainha de todas as coisas”. Não há vitória sem guerra, não há conquista sem guerra, não há desafio sem guerra. Para o homem conquistar algo, é preciso sair da zona de conforto, ou seja, ir à guerra.
As palavras do meu amigo foram para mim um convite à batalha. Batalha invisível, batalha interna, batalha pessoal. Eu precisava provar para mim mesmo que eu era um grande soldado, disposto a ser disciplinado e determinado.
Resolvi excluir a palavra impossível do meu léxico. Hoje percebo que aquele ditado popular foi a mola propulsora para exsurgir-me. Hoje compreendo que a palavra impossível traz consigo algumas palavrinhas implícitas, ei-las: salvo se, ou exceto, ou a não ser que. Assim sendo, vejamos: “é impossível papagaio velho aprender a falar, salvo se é ele for suficientemente determinado a falar”, “é impossível papagaio velho aprender a falar, a não ser que ele realmente queira”, “é impossível papagaio velho aprender a falar, exceto se ele treinar”. Percebeu?! O impossível é condicional. O impossível só é impossível quando nos quedamos.
Então, caro amigo leitor, vamos à guerra!!!

Ps.: O pior de toda essa história é que o meu amigo acreditou tanto no ditado de que “papagaio velho não aprende a falar”, que até hoje ele não aprendeu, pois continua do mesmo jeitinho.

Manoel Barreto
Enviado por Manoel Barreto em 11/08/2014
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